sábado, 28 de fevereiro de 2009

PRÓXIMA LEITURA 27/03/2009: LUDICIDADE!


COMEMORAÇÃO: DIA DO TEATRO E DO CIRCO!!!

DIREÇÃO:
KARINA ALLATTA
THAIS ALVES

ARTISTAS:
OLGA LAMAS (Atriz/Dançarina)
RITA AQUINO (Dançarina/Acrobata)
SANDRA SIMÕES (Cantora/Atriz)


TEXTOS:
KARINA RABNOVITZ
THAIS ALVES
ALESSANDRA NOHVAIS
ALICE SANT'ANA



( Partes do Conto: "E Foi Porque Eu Cismei De Querer Você Que Você Apareceu")

Um dia o mundo virou de cabeça para baixo, como eu gosto de plantar bananeira, acrobacias atrai o meu corpo, consegui me salvar da nova geografia em que o mundo se configurava...O meu cabelo como havia também se encurtado não cobriu o meu olho na hora de ficar de cabeça para baixo, a sensação era diferente, uma liberdade equilibrista, eu era a maior acrobata da nova ordem do mundo crescido

...

Eu entro na lona circo do mundo, subo na cama elástica, dou piruetas, vou para a corda bamba, depois arrisco no trapézio, ando de monociclo, faço contorcionismo com o corpo mole, me seguro na corda, equilibro objetos...eto...jetos...Eles já estão sendo equilibrados...ados...Olho para o palhaço, gargalho da sua risada, desconfio do coelho do mágico, cuspo fogo de desejos, atiro facas, sou bailarina...E você dança....
Pode ser contos cantados em cantos, certo...?
Dancei contado, digo cantando, novos contos...IRRITADAMENTE COM TERNURA ELA ME ENTROU

(Thais Alves)



Debaixo da lona

Misturei picadeiro com pandeiro
Me equilibrei
Nas cordas do violão
Meu coração Saltou como um trapezista
Das mãos da malabarista
Às notas do bandolim
Respeitável público
O meu samba é assim
Feito de alegria de verso e prosa ternura e paixão
Debaixo da lona do circo
O samba acontece na palma da mão...
Debaixo da lona do circo dá samba
Debaixo da lona do circo tem samba

(Música- Sandra Simões)


meu primeiro...

ele vinha pra dentro
e elas - as ondas - por cima de mim.
cheiro de jasmim
na beira da praia
deitada
sem saia, nua,
para que ele fosse o primeiro - o Mar -
e descobrisse a lua,
o universo inteiro
de dentro de mim,
cheio de jasmim.
lambidas de sal,
num entra-e-sai...
carrossel,
céu azul
luminoso,
sussurros,
areia molhada.
gozo.
no meu ventre,
um filho dele vai chegar.
um filho meu com...
... o Mar.
(Karina Rabnovitz)

EFEMERIDADES


LEITURA 27/02/2009: EFEMERIDADES...

ATRIZES:
JUSSARA MATHIAS
E
MIRELLA MATOS

MÚSICO:
LUCAS DOURADO

TEXTOS:
KARINA RABNOVITZ
ELISA LUCINDA


currículo
meu nome eu mesma.
meu endereço em mim.
meu cadastro de pessoa física este corpo,
que dentro é céu e é jardim.
meu registro geral não foi registrado
e desde meu nascimento,
numa quarta-feira de cinzas,
nutro certo encantamento,
por tudo que não é numerado.
meu telefone anda ocupado,
uma família de pássaros fez um ninho
bem no fio da minha linha
desde então, ali só se aninha
o canto de uma mãe que espera.
pra falar comigo,
só mesmo depois da primavera,
quando do nascimento do novo passarinho.
minha formação profissional
segue um caminho
amador.
já que insisto no amor.
a formação que me interessa é emocional.
minhas atividades atuais:
pensar na vida
e uma corrida sem fim à beira-mar...
encontrar saídas e
encontrar entradas,
para essa vontade desmedida
de viver, de amar.
por fim, minhas referências pessoais,
é melhor que eu não diga
ou que você pergunte a ninguém...
elas serão sempre mais.
mais verdadeiro
que você descubra,
na convivência comigo,
meu tempero,
minha loucura,
minha ternura,
meu desassossego...
então?
é meu, o emprego?
(Karina Rabnovitz)

EFEMERIDADES


LEITURA DE JANEIRO 30/01/2009

TEMA:
EFEMERIDADES

ATRIZES:
HEBE ALVES
MIRELLA MATOS

CANTORA:
NANCYTA

Textos de:
Guillaume Apollinaire
Clarice Lispector
Claudia Barral
Jorge Mautner


Zulmira.

Um dia Lúcia quis olhar pra Zulmira e não pôde. Teve pânico. Não sabia o que estava acontecendo entre as duas, não podia olhar-lhe na cara. Não é normal, entre amigas. Zulmira era amiga. Não era? Era porque um dia ela disse. Depois daí nada mudou. Agora não podia vê-la. Quando cruzavam os olhos, ficava enjoada.
Mas o que é isso que acontece? O que acontecia é que ela estava sentindo e estranhava. Sentia raiva, ódio. Foi ao espelho e viu a sua expressão de fúria. Agora estava pronta para encarar Zulmira, já sabia quem ia ser.
Sabia também quem eram os amigos. Não sabia? Se Zulmira era boa, por que a odiava? Pensou em Zulmira, na forma como a tratava, na forma como era tratada de volta. Seu ódio explodiu como um vulcão. Quis cravar as unhas no rosto da amiga. No rosto feio da amiga. O problema era esse: Lúcia era bonita, Zulmira era feia. Lúcia era o brinquedo, o troféu, o imã, o objeto da sutil perversidade de Zulmira. Uma vez, Lúcia lhe pediu um sapato emprestado para um encontro e estava animada, teve que voltar à sua casa algumas vezes até Zulmira lhe dizer que não tinha mais o sapato. Noutra ocasião, Zulmira deu fim no gato de Lúcia só para vê-la chorar.
Lúcia era bonita, mas era uma, de forma que Zulmira se refestelava com os restos. Quando os urubus chegavam, ela comia ensopado de urubu, comia os rejeitados, comia as sobras do prato de Lúcia. Sendo feia, como era, não havia outro jeito de se aproximar dos homens. Lúcia era a isca, ela era é hiena, os homens são cruéis.
O amor? O amor viria depois. Viria sem ver cara, cheio de perdão e glória, o amor é incêndio e força. Mas Zulmira era o ódio.
Aproveitadora, ambas sabiam. Nada precisaria ser dito. Ela sentia e bastava.
Durante muito tempo esteve nua, não sabe quem lhe feriu, estava ausente.
Agora voltava a ver uma fresta de luz dentro do seu próprio breu, estava se vestindo de emoções, nascia berrando e era bom. Era um milagre, como a vida. Estava alegre e atenta, era uma mulher humana, inteira carne. Sua respiração era pesada e quente, ela não sabia nada, estava forte.
Esperava o momento de encontrar a outra, queria olhá-la com ódio, queria senti-lo, gastá-lo. A leoa ia expulsar a hiena. Ia comer em paz. Estava feliz, não queria falar. Tinha ódio e estava feliz. Aceitava. Estava sendo amiga de si mesma.
Eu me aceito, disse em voz alta. E o primeiro dia da sua vida começou a amanhecer.
(Claudia Barral)